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Essa minha letra: Lima Barreto e os Modernismos Negros

NESTA SEÇÃO APRESENTAMOS AS OBRAS QUE FORAM EXIBIDAS NA EXPOSIÇÃO “ESSA MINHA LETRA: LIMA BARRETO E OS MODERNISMOS NEGROS”, QUE ACONTECEU DE 11 A 18 DE FEVEREIRO DE 2022, NO MUSEU DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA (MUHCA). CURADORIA DE LILIA SCHWARCZ, JAIME LAUREANO E PEDRO MEIRA MONTEIRO.

Detalhe da obra O Escravo (2022), de Marlon Amaro
Detalhe da obra O Escravo (2022), de Marlon Amaro

“Durante a realização desse trabalho, eu visualizei muito o entardecer do ponto de vista de alguém olhando o mar, no momento de despedida do dia. Algo que estava indo embora, mas com a esperança de que o dia seguinte fosse melhor. Foi o sentimento que tive quando li o conto “O escravo”. Depois de um momento, eu pensei muito também sobre as relações de trabalho hoje em dia, que não são tão diferentes do que era antigamente. Não à toa muitos dizem que vivemos hoje um outro tipo de escravidão. Então eu optei por algo mais metafórico: as lágrimas do  próprio sujeito fazem esse mar que eu vi. E ele está de costas para o entardecer. É o sentimento de melancolia desse sujeito, que não sabe onde está. É a dor que o mata. Pensei muito nisso quando fiz essa obra.”.

MARLON AMARO

“’O homem que sabia javanês’ tem uma coisa do “finge que tem”, do “jeitinho”. A ideia de ele não falar javanês mas aprender algumas palavras, de certa forma através do afeto e do trambique, se fazer na vida iludindo um homem sem esperança e, ao mesmo tempo, gerando esperança para ele, é cômico e também faz do vilão o mocinho. A ideia do Zé Carioca, de certa forma, é também uma coisa do animal que repete uma palavra sem saber o que fala, e com estratégias bélicas e econômicas por trás - Segunda Guerra -, uma propaganda da Disney no Brasil. Tem várias cortinas por trás desse papagaio que repete palavras sem saber o que fala, mas ele é carismático – ele finge que fala.”

DANIEL LANNES

O
DANIEL LANNES
O homem que sabia javanês. 2022. Técnica: Óleo sobre linho. 90x60 cm. Acervo do artista.

“É brilhante a forma como Lima Barreto revela e sobrepõe no conto camadas e camadas do racismo que estrutura ainda hoje a nossa sociedade. Daí a pertinência e a atualidade de ‘O filho de Gabriela’. Eu me ative sobre o palíndrome ama. Ao espelhar a palavra, criei uma espécie de gradil de estrutura que transborda a margem do papel. Essa grade gráfica é ornada por passagens que eu considero importantes no decorrer do conto. Ela ganha uma cor amarela em contraste ao preto ou se mistura em preto, branco e vermelho. Não há um lado certo para visualizar o pôster. É intencional esse embaralhar de visões, leitura, direções. Trazer a complexidade da figura da ama é traduzir essa estrutura que criou e cria, que mandou e manda, amamentou e amamenta o Brasil”.

IGOR VIDOR

Gaiola
IGOR VIDOR
Gaiola Niquelada. Baseado no conto “O filho de Gabriela”. 2022. Técnica: Montagem digital. 90x60 cm. Acervo do artista.

“Durante a realização desse trabalho, eu visualizei muito o entardecer do ponto de vista de alguém olhando o mar, no momento de despedida do dia. Algo que estava indo embora, mas com a esperança de que o dia seguinte fosse melhor. Foi o sentimento que tive quando li o conto “O escravo”. Depois de um momento, eu pensei muito também sobre as relações de trabalho hoje em dia, que não são tão diferentes do que era antigamente. Não à toa muitos dizem que vivemos hoje um outro tipo de escravidão. Então eu optei por algo mais metafórico: as lágrimas do  próprio sujeito fazem esse mar que eu vi. E ele está de costas para o entardecer. É o sentimento de melancolia desse sujeito, que não sabe onde está. É a dor que o mata. Pensei muito nisso quando fiz essa obra.”.

MARLON AMARO

Melancolia.
MARLON AMARO
Melancolia. Baseado no conto “O escravo”. 2022. Técnica: Óleo sobre tela. 90x60 cm. Acervo do artista.