VÍDEOS

LIMA BARRETO POR
BIANCA SANTANA

“Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.”

Obra-prima de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma narra a história de um nacionalista extremado, cuja visão sublime do Brasil é motivo de desdém e ironia. Publicado originalmente em formato de folhetim no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, entre 11 de agosto e 19 de outubro de 1911, o romance põe em discussão questões como o patriotismo, a loucura, a violência, a república e a frágil cidadania experimentada no Brasil do início do século XX. Paga pelo próprio escritor, a primeira edição em livro seria impressa somente em 1915.
LIMA BARRETO POR
THIAGO AMPARO

“Dessa vez ao contrário de todo o sempre, São Pedro, antes de sair, leu de antemão a lista; e essa sua leitura foi útil, pois que se a não fizesse talvez, dali em diante, para o resto das idades – quem sabe? – o Céu ficasse de todo estragado. Leu São Pedro a relação: havia muitas almas, muitas mesmo, delas todas, à vista das explicações apensas, uma lhe assanhou o espanto e a estranheza.”

Escrito em 1904, mas publicado apenas vinte anos mais tarde, “O pecado” articula uma das mais mordazes críticas de Lima Barreto ao posicionamento da igreja católica frente à escravidão negra no Brasil, abrindo espaço também para a reflexão acerca da não inclusão dos ex-escravizados nos cenários sociais do país no pós-abolição. Ainda que duas versões anteriores possam ser encontradas na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, a primeira publicação aconteceria apenas postumamente, na revista Souza Cruz, ano VIII, n. 92, em agosto de 1924.
LIMA BARRETO POR
HILTON COBRA

“- Por isso precisava de três pessoas conceituadas que fossem testemunhas de uma experiência dela e me dessem um atestado em forma, para resguardar a prioridade da minha invenção… O senhor sabe: há acontecimentos imprevistos e…
– Certamente! Não há dúvida!
– Imagine o senhor que se trata de fazer ouro…
– Como? O quê? fez Bastos, arregalando os olhos.
– Sim! Ouro! disse, com firmeza, Flamel.”

Um dos contos mais conhecidos de Lima Barreto, “A nova Califórnia” narra as agitações de uma pequena cidade a partir da chegada de um forasteiro que garante ser possível transformar ossos humanos em ouro. Assim como em “O homem que sabia Javanês”, neste conto Barreto apresenta uma crítica ao deslumbre com o que vem do estrangeiro e ao fascínio com as ideias pretensamente científicas. Um dos textos preferidos do autor, “A nova Califórnia” foi escrito em 1910 e publicado na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (Rio de Janeiro: Typ. Revista dos Tribunais, 1915, p. 273-284).
LIMA BARRETO POR
JEFERSON TENÓRIO

“O Simões era descendente de uma famosa família dos Feitais, do estado do Rio, de que o 13 de Maio arrebatou mais de mil escravos. Uma verdadeira fortuna, porque escravo, naquelas épocas, apesar da agitação abolicionista, era mercadoria valorizada.”

O conto “O Caçador Doméstico”, lido por Jeferson Tenório, se destaca entre as últimas produções de Lima Barreto. A história narra a decadência de um escravocrata cuja família tinha um “horror extraordinário à carta de alforria”. Originalmente publicado na revista Careta, em 23 de abril de 1921, o texto também está presente em Histórias e sonhos: Contos (Rio de Janeiro: Gráfica Editora Brasileira, 1951) e Contos completos de Lima Barreto (São Paulo: Companhia das Letras, 2010).
LIMA BARRETO POR
PRETO ZEZÉ

“Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar ideias; ninguém quer dar a emoção. Todos querem ‘comer’. ‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’”.

“A política republicana” é referência incontornável aos interessados pela crítica arguta de Lima Barreto às promessas da República. Lida aqui por Preto Zezé, a crônica localiza na mudança de regime político uma das causas do fracasso nacional no despontar do século XX. Carência de elevação moral, falta de originalidade intelectual e excesso de ‘comilança’ são algumas das maledicências reiteradas pelo escritor para desqualificar o que ele chamou de “o regime da corrupção”. Publicado na revista A.B.C (19 outubro de 1918), o artigo também consta na coletânea Lima Barreto: Toda crônica – Volume 1, 1890-1919 (2004, pp. 392-393).
LIMA BARRETO POR
LEANDRO SANTANA

“Recebia cartas dos eruditos do interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos sequiosos de entenderem o tal javanês.”

“O homem que sabia javanês”, de autoria de Lima Barreto e interpretado por Leandro Santanna, foi publicado originalmente na Gazeta da Tarde (20 de abril de 1911), e, quatro anos depois, na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915, pp. 287 -97). O conto desenvolve a história de Castelo, um personagem que sai do anonimato à glória nacional ao se candidatar a uma vaga de professor de língua javanesa. A conversa boêmia entre Castelo e Castro, o narrador e seu interlocutor, tem início numa confeitaria carioca e nos conduz à Biblioteca Nacional, ambientes diletos de Lima Barreto. Pela via do sarcasmo, o conto atesta o olhar crítico do nosso escritor em relação à erudição postiça e ao fascínio dos “doutores” pela importação de ideias estrangeiras.
LIMA BARRETO POR
SILVIO ALMEIDA

“Os dias no emprego do Estado nada têm de imprevisto, não pedem qualquer espécie de esforço a mais, para viver o dia seguinte. Tudo corre calma e suavemente, sem colisões, nem sobressaltos, escrevendo-se os mesmos papéis e avisos, os mesmos decretos e portarias, da mesma maneira, durante todo o ano, exceto os dias feriados, santificados e os de ponto facultativo, invenção das melhores da nossa República.”

O conto "Três Gênios de Secretaria" é um dos mais satíricos de Lima Barreto. Nele, o escritor aponta a sua crítica ao ofício dos burocratas partir de três caricaturas: o burocrata honesto, o desonesto e o medíocre. Publicado originalmente em Brás Cubas, Rio de Janeiro, 10 de abril de 1919, o texto também aparece na coletânea Contos completos de Lima Barreto, São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
LIMA BARRETO POR
ELISA LUCINDA

“Certamente, durante os séculos de escravidão, nas cidades, os seus antepassados só se podiam lembrar daquelas cerimônias de suas aringas ou tabas, pelo carnaval. A tradição passou aos filhos, aos netos, e estes estavam ali a observá-la com as inevitáveis deturpações.”

O conto “Cló” aborda a violência do desejo e suas interdições no interior de uma família atravessada pelo período do pós-abolição. Contextualizada na mistura de gestos e raças do carnaval carioca, a história se concentra nos flertes da jovem Cló, filha do casal Maximiliano e Isabel, e do casado dr. André. Ambiguidade e a violência das relações interraciais, bem como sua denúncia, fazem parte da narrativa desse conto.  O conto foi originalmente editado na primeira edição de Histórias e sonhos (1920), além de posteriormente publicado na coletânea Três contos—Lima Barreto (1955), com ilustrações de Claudio Correia e Castro.
LIMA BARRETO POR
CONCEIÇÃO EVARISTO

“Quando saio de casa e vou à esquina da Estrada Real de Santa Cruz, esperar o bonde, vejo bem a miséria que vai por este Rio de Janeiro.”

A crônica O "muambeiro”, de autoria de Lima Barreto, é lida aqui por uma das grandes expoentes da literatura brasileira contemporânea, Conceição Evaristo. O texto foi republicado e compilado em Toda crônica: Lima Barreto, em edição organizada por Beatriz Resende e Rachel Valença (Editora Agir, 2004). Com o olhar aguçado que lhe é próprio, a crônica nos aproxima das andanças de Lima pelos subúrbios cariocas e retrata os infortúnios dos trabalhadores que por ali circulavam. Ao recontar histórias que ouvia à espera do bonde, o texto expõe as tensões entre o cotidiano carioca e a vida econômica do país, ao mesmo tempo em que compartilha modos de navegar através de suas contradições.
LIMA BARRETO POR 
DJAMILA RIBEIRO

“Viu o olhar severo do pai; as recriminações da mãe. Ela, porém, precisava casar-se. Não havia de ser toda a vida assim como um cão sem dono… Os pais viriam a morrer e ela não podia ficar pelo mundo desamparada… Uma dúvida lhe veio: ele era branco; ela, mulata…”

O conto Clara dos Anjos, de autoria de Lima Barreto e lido por Djamila Ribeiro, está presente na primeira edição de Histórias e sonhos (1920, pp. 142-153). Um fragmento do manuscrito original pode ser encontrado na Biblioteca Nacional (Mss. I-06,34,0906). A história foi uma das mais revisitadas pelo escritor. Lima faz referência à personagem já no seu Diário íntimo da década de 1910. Em 1922, o texto virou romance, mas foi publicado apenas postumamente no ano de 1948. Considerada a novela mais suburbana e feminina do autor, a narrativa retrata uma jovem alter-ego de Lima - negra, sonhadora e carioca -, que termina grávida e abandonada.