Linha do tempo
1881
Afonso Henriques de Lima Barreto nasce em 13 de maio. É batizado, em 13 de outubro, na matriz de Nossa Senhora da Glória, tendo como padrinho o senador Afonso Celso, amigo de seu pai, o tipógrafo João Henriques de Lima Barreto.
1882
Nascimento de Evangelina, irmã do escritor. Devido aos sinais de tuberculose na mãe do escritor, a professora Amália Augusta Pereira de Carvalho, a família se muda para o Flamengo, Santa Luzia, Boca do Mato, Catumbi e Paula Matos.
1884
Nascimento de Carlindo, irmão do escritor.
1885
João Henriques, pai de Lima Barreto, começa a trabalhar nas oficinas da Imprensa Nacional.
1886
Nascimento de Eliézer, irmão do escritor.
1887
Lima Barreto aprende as primeiras letras com a mãe, que falece em 23 de dezembro. A família se muda para o centro da cidade.
1888
Começa a frenquentar a escola pública municipal da rua do Rezende. No dia que completa sete anos, assiste em companhia do pai aos festejos da abolição da escravatura. Em agosto, João Henriques publica pela Imprensa Nacional uma tradução do Manual do aprendiz compositor, do francês Jules Claye, destinada à instrução dos funcionários do órgão. Em dezembro começa a trabalhar como paginador da Tribuna Liberal, ligada a Afonso Celso e ao Partido Liberal.
1891
Em março, Lima Barreto é matriculado como aluno interno no Liceu Popular Niteroiense, e seu padrinho, o visconde de Ouro Preto, lhe custeia o material didático.
1895
Completa o curso secundário e parte do suplementar no Liceu Popular Niteroiense. É aprovado com “simplesmente” nos exames preparatórios de português e francês do Ginásio Nacional (antigo Colégio Pedro II).
1896
Em março, é matriculado no internato do Colégio Paula Freitas, preparatório da Escola Politécnica.
1897
Em abril, matricula-se no primeiro ano geral da Politécnica, com a intenção de cursar engenharia civil. Passa a residir em pensões no centro da cidade. É reprovado em todas as cadeiras do primeiro ano, exceto física. Começa a frequentar a Biblioteca Nacional, na rua do Passeio. Nos anos seguintes, torna-se leitor assíduo da instituição.
1898
Em abril, matricula-se nas cadeiras pendentes do primeiro ano de engenharia, mas é reprovado mais uma vez em cálculo e geometria descritiva.
1899
Matricula-se pela terceira vez no primeiro ano da Politécnica, mas em novembro é reprovado pela quarta vez em cálculo.
1900
Viaja para Barbacena (MG) com colegas da Politécnica para prática da cadeira de topografia. É a primeira viagem conhecida de Lima Barreto fora do Rio. O escritor sairá raras vezes da cidade natal. Em 2 de julho, faz a primeira anotação no Diário íntimo: um esboço do primeiro capítulo de uma ficção à clef baseada no cotidiano da Politécnica. Em novembro aparece sua primeira publicação conhecida: o soneto “Assim…”, no jornal O Suburbano, editado na ilha do Governador. Em 1º de dezembro publica a crônica “Francisco Braga — Concertos sinfônicos”, em A Lanterna, estreia do escritor no jornalismo. Adota o pseudônimo Alfa Z.
1902
João Henriques, pai de Lima Barreto, recebe o diagnóstico de “neurastenia”, termo genérico para diversos transtornos mentais. Em novembro, com o amigo e colega de faculdade Bastos Tigre, edita A Quinzena Alegre, folheto satírico de curta duração.
1903
Em junho, registra no Diário íntimo estar comendo pouco por causa de dificuldades financeiras. Inscreve-se no concurso para uma vaga de amanuense na Secretaria da Guerra. Em julho, colabora com duas crônicas no jornal satírico O Tagarela, sob o pseudônimo Rui de Pina. Em 12 de agosto começa a circular O Diabo, revista humorística dirigida por Bastos Tigre, na qual colabora. Publica uma crônica assinada por Rui de Pina e outra por Diabo Coxo. Em outubro, é nomeado amanuense na Secretaria da Guerra. Em novembro abandona a Politécnica. Para complementar a renda, começa a dar aulas particulares. Esboça uma peça teatral intitulada Os negros. No fim do ano, atua como secretário de redação da Revista da Epoca.
1904
Em março deixa a secretaria da Revista da Epoca por se recusar a escrever elogios encomendados a políticos. Em setembro, escreve o conto “Um especialista”, publicado em 1915 no volume da primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma. Em novembro, faz os primeiros esboços de Clara dos Anjos, no Diário íntimo. Também no Diário, rascunha o argumento de Marco Aurélio e seus irmãos, romance em vinte capítulos inspirado em sua história familiar. Em anotação sem data, escreve: “A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos, a posteriori”.
1905
Em janeiro, registra mais um projeto literário no Diário íntimo: “Pretendo fazer um romance em que se descrevam a vida e o trabalho dos negros numa fazenda. Será uma espécie de Germinal negro, com mais psicologia especial e maior sopro de epopeia…”. Em 17 de janeiro, anota: “Hoje, à noite, recebi um cartão-postal. Há nele um macaco com uma alusão a mim e, embaixo, com falta de sintaxe, há o seguinte: ‘Néscios e burlescos serão aqueles que procuram acercar-se de prerrogativas que não têm. M’. […] Desgosto! Desgosto que me fará grande” (Diário íntimo). Em 28 de abril começa a publicar no Correio da Manhã, sem assinar, a série de 26 reportagens “O subterrâneo do morro do Castelo”, sobre a presumida existência de tesouros jesuíticos enterrados no local. Os jornalistas do Correio serão implacavelmente retratados em Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) como funcionários do fictício O Globo. 12 de julho: Data do prefácio de Recordações do escrivão Isaías Caminha.
1906
8 de outubro: data do prefácio (“Explicação necessária”) de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. Publicado em 1919, o romance será quase todo escrito entre 1906 e 1907. Em dezembro escreve o conto “O filho da Gabriela”, publicado em 1915 na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma.
1907
Colabora nos primeiros números da revista Fon-Fon, com os pseudônimos Phileas Fogg e S. Holmes. Em 25 de outubro aparece o primeiro número de Floreal — Publicação Bimensal de Critica e Literatura, com direção de Lima Barreto. Publica na revista os primeiros capítulos de Isaías Caminha. Em 31 de dezembro sai o quarto e último número de Floreal, com 56 páginas. Com o fim da revista, interrompe-se a publicação seriada de Isaías Caminha.
1908
Em 16 de julho registra pensamentos suicidas no Diário. “Hoje, quando essa triste vontade me vem, já não é o sentimento da minha inteligência que me impede de consumar o ato: é o hábito de viver, é a covardia, é a minha natureza débil e esperançada. […] Só o Álcool me dá prazer e me tenta… Oh! meu Deus! Onde irei parar?”. Comenta que Recordações do escrivão Isaías Caminha está quase terminado. “Falta escrever dois ou três capítulos.”
1909
Em março, recebe do editor português A. M. Teixeira o aceite para publicação de Isaías Caminha. O romance será publicado sem remuneração ao autor, que como pagamento receberá exemplares do livro. Em novembro, Recordações do escrivão Isaías Caminha começa a ser vendido no Rio de Janeiro. O lançamento quase não é comentado pela imprensa carioca. As escassas críticas sobre o livro o recriminam por ser um romance à clef.
1910
Em 12 de fevereiro publica sua primeira crônica na revista Careta, assinada com o pseudônimo Puck. Em novembro escreve o conto “A nova Califórnia”, incluído na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). Em dezembro surgem os primeiros esboços de Triste fim de Policarpo Quaresma, em notas sem data no Diário íntimo.
1911
Em março, conclui Triste fim de Policarpo Quaresma. No mesmo mês, “A nova Califórnia” aparece na Revista Americana. Em 20 de abril passa a publicar na Gazeta da Tarde, estreando com o conto “O homem que sabia javanês”. Em 27 de maio publica na Gazeta o conto “Ele e suas ideias” e a comédia em ato único Casa de poetas. Em 3 de junho A Gazeta publica a primeira versão de “Numa e a ninfa”, na forma de conto. Em 11 de agosto tem início da publicação do folhetim Triste fim de Policarpo Quaresma na edição vespertina do Jornal do Commercio, mas é praticamente ignorado pela crítica.
1912
Em 1º de fevereiro entra em nova licença médica para tratamento de “reumatismo poliarticular” e “hipercinese cardíaca”, sintomas típicos de alcoolismo. Em 27 de junho é posto à venda o folheto picaresco O Chamisco ou O querido das mulheres, pela revista O Riso, texto não assinado. Em setembro publica, em dois fascículos, Aventuras do dr. Bogóloff: Episódios da vida de um pseudorrevolucionário russo, cujo protagonista reaparecerá em Numa e a ninfa. Em setembro, O Riso lança o folheto Entra, senhór!…, também não assinado. Em março escreve o conto “Um e outro”, publicado na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). O conto também aparecerá na edição de julho-dezembro da revista portuguesa A Águia.
1914
Em março, escreve o conto “Miss Edith e seu tio”, publicado na Illustração Brasileira em 16 de abril e também na edição de Triste fim de Policarpo Quaresma, no ano seguinte. Em 19 de junho começa a escrever crônicas diárias para o Correio da Noite. Em 13 de julho: “Noto que estou mudando de gênio. Hoje tive um pavor burro. Estarei indo para a loucura?” (Diário íntimo). Em 18 de agosto, durante uma crise alcoólica, precisa ser contido para não destruir a casa da família. Por recomendação médica, segue para o sítio de um tio em Mangaratiba, mas o surto se repete e seu irmão Carlindo providencia para que seja levado num carro-forte da polícia e internado no Hospital de Alienados, em Botafogo, onde recebe tratamento com ópio. Recebe alta do hospital em 13 de outubro e cinco dias depois escreve o conto “Como o ‘homem’ chegou”, no qual reconstitui o trauma da longa viagem entre Mangaratiba e o hospital. Em 1o de novembro, licencia-se novamente da Secretaria da Guerra por motivos de saúde. O diagnóstico é idêntico ao do pai: neurastenia. Em dezembro volta a escrever no Correio da Noite.
1915
Em 20 de março o diário A Noite começa a publicar o folhetim Numa e a ninfa: Romance da vida contemporânea. No mesmo mês, começa a publicar com mais frequência na Careta, quase sempre sob pseudônimo. Em dezembro, Triste fim de Policarpo Quaresma entra no prelo.
1916
Em 18 de fevereiro o jornal A Epoca publica na primeira página uma entrevista com Lima Barreto e uma resenha favorável a Triste fim, lançado em 26 de fevereiro - o primeiro livro do escritor publicado no Brasil. Com data de 1915, inclui os contos “Um especialista”, “O filho da Gabriela”, “A nova Califórnia”, “O homem que sabia javanês”, “Um e outro”, “Miss Edith e seu tio” e “Como o ‘homem’ chegou”. Em junho, viaja para para Ouro Fino (MG), onde, por causa de uma crise de delírio alcoólico, acaba internado na Santa Casa local. Em 10 de setembro publica, no jornal A Epoca, a crônica manifesto “Amplius!”, em que critica o establishment literário e explicita sua militância por uma literatura com preocupações sociais. O texto será incorporado como introdução ao volume de contos Histórias e sonhos (1920). Em 25 de novembro inicia com a crônica “O ideal do Bel-Ami” a colaboração na revista A.B.C., que publica alguns de seus melhores textos políticos, entre os quais os contos alegóricos de Os bruzundangas. 31 de dezembro é a data do pós-escrito adicionado pelo autor à “Breve notícia” de Recordações do escrivão Isaías Caminha, cuja segunda edição (primeira brasileira) aparecerá em setembro do ano seguinte.
1917
Em março o jornal A Noite lança a primeira edição do folhetim Numa e a ninfa em livro, que leva a data de 1915 no frontispício. Saem duas tiragens, a segunda com os dizeres “Romance sugestivo de escândalos femininos” na capa. Em julho, é internado no Hospital Central do Exército devido a nova bebedeira. Entrega os originais de Os bruzundangas ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos. O livro será publicado somente em dezembro de 1922. Em 21 de agosto escreve a Rui Barbosa, presidente da Academia Brasileira de Letras, inscrevendo-se para a vaga aberta pela morte de Sousa Bandeira. Sua candidatura será desconsiderada. Em setembro, começa a venda da segunda edição, “revista e aumentada”, de Recordações do escrivão Isaías Caminha, paga pelo autor.
1918
Em janeiro o conto “Sua Excelência” é publicado na revista Plateia, de São Paulo. Em 29 de julho solicita aposentadoria da Secretaria da Guerra por invalidez. Em 17 de agosto uma junta médica oficial o considera incapacitado para o trabalho; o diagnóstico oficial é “Epilepsia tóxica”. Em 5 de outubro, pelas páginas da A.B.C., entra numa polêmica sobre a contratação de uma mulher como amanuense da Secretaria das Relações Exteriores. O escritor considera o feminismo elitista, embora combata o feminicídio e outras formas de violência contra a mulher. Em 4 de novembro, é encontrado caído na rua de Todos os Santos; levado para o Hospital Central do Exército, permanece dois meses internado. Do hospital, envia os originais de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá a Monteiro Lobato, editor da Revista do Brasil, de São Paulo. Lobato responde afirmativamente e lhe oferece um conto de réis em adiantamento e mais 50% dos lucros com as vendas do romance. Em 26 de dezembro é aposentado por decreto do presidente em exercício, Delfim Moreira.
1919
Em 5 de janeiro recebe alta do hospital militar. Sua moléstia é classificada como “alcoolismo crônico”. Em 1º de fevereiro suspende por carta a colaboração na A.B.C., em protesto contra um artigo racista. Com a retratação da revista, retoma o envio de crônicas nas semanas seguintes. Em 22 de fevereiro Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá começa a ser vendido nas livrarias do Rio de Janeiro. Em 24 de fevereiro se candidata pela segunda vez à ABL, para a vaga deixada pela morte de Emílio de Meneses. Recebe dois votos nos dois primeiros escrutínios e apenas um nas demais votações. Em 2 de agosto publica na A.B.C. a crônica “Uma fatia acadêmica”, na qual critica Machado de Assis e a Academia Brasileira de Letras. 25 de dezembro: segunda internação no Hospital de Alienados, depois de novo surto psicótico. Como em 1914, recebe tratamento à base de ópio. A temporada na praia da Saudade origina as notas de Diário do hospício, que por sua vez serve de base ao romance inacabado O cemitério dos vivos.
1920
Recebe alta no dia 2 de fevereiro. Em novembro, envia os originais de História e sonhos ao editor e amigo Francisco Schettino. O livro é lançado em dezembro, reunindo vinte contos, entre os quais “O moleque”, “Cló”, “Agaricus auditae”, “Sua Excelência” e “Clara dos Anjos”, que condensa o romance homônimo, em preparo desde 1904. Em 4 de dezembro inscreve Gonzaga de Sá no prêmio de “Melhor livro do ano” da Academia Brasileira de Letras e entrega a Francisco Schettino os originais de de Marginália, uma parte dos quais se perde. O livro sairá postumamente em 1953, em conjunto com Mágoas e sonhos do povo e Impressões de leitura.
1921
Em janeiro, publica “As origens”, primeiro capítulo de O cemitério dos vivos, na Revista Souza Cruz. Em abril, Gonzaga de Sá recebe menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Em junho, é publicada a segunda tiragem de Gonzaga de Sá, com nova capa e menção à distinção recebida da ABL. Em 1º de julho se inscreve para a vaga de João do Rio na Academia Brasileira de Letras. Em agosto entrega a Francisco Schettino os originais de Bagatelas, volume de crônicas lançado apenas em 1923. Em 28 de setembro retira a candidatura à ABL numa carta em que alega “motivos inteiramente particulares e íntimos”. Em outubro publica a conferência “O destino da literatura” na Revista Souza Cruz. Em dezembro começa a escrita efetiva de Clara dos Anjos, dada por concluída em janeiro do ano seguinte. Entrega a Francisco Schettino os originais das crônicas de Feiras e mafuás, que permanecerá inédito até 1956.
1922
Em maio publica “O carteiro”, primeiro capítulo de Clara dos Anjos, na revista O Mundo Literario. Em 22 de julho, em crônica na Careta, qualifica os modernistas de São Paulo de “futuristas” e faz troça da revista Klaxon. 1º de novembro: morre em casa, à tarde, de “gripe torácica” (provavelmente pneumonia) e “colapso cardíaco”. O enterro acontece na manhã seguinte, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, conforme sua vontade expressa. Em dezembro, é publicado Os bruzundangas.
1923
Janeiro: a Revista Souza Cruz inicia a publicação em dezesseis partes de Clara dos Anjos, até a edição de maio de 1924. Bagatelas é publicado pela Empresa de Romances Populares, do Rio de Janeiro.
1948
Primeira edição do romance Clara dos Anjos, pela Editora Mérito, do Rio de Janeiro.
1952
Francisco de Assis Barbosa publica A vida de Lima Barreto.
1956
Início da publicação da obra completa de Lima Barreto em dezessete volumes pela Editora Brasiliense, com organização de Assis Barbosa e prefácios de intelectuais de renome, como Oliveira Lima, Alceu de Amoroso Lima, João Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Gilberto Freyre.
Adaptado por Rodrigo Simon, Heloisa Krüger e Guilherme Moura Fagundes a partir de Lima Barreto: Triste visionário, de Lilia M. Schwarcz (p. 603-609).