“Dessa vez ao contrário de todo o sempre, São Pedro, antes de sair, leu de antemão a lista; e essa sua leitura foi útil, pois que se a não fizesse talvez, dali em diante, para o resto das idades – quem sabe? – o Céu ficasse de todo estragado. Leu São Pedro a relação: havia muitas almas, muitas mesmo, delas todas, à vista das explicações apensas, uma lhe assanhou o espanto e a estranheza.”
Escrito em 1904, mas publicado apenas vinte anos mais tarde, “O pecado” articula uma das mais mordazes críticas de Lima Barreto ao posicionamento da igreja católica frente à escravidão negra no Brasil, abrindo espaço também para a reflexão acerca da não inclusão dos ex-escravizados nos cenários sociais do país no pós-abolição. Ainda que duas versões anteriores possam ser encontradas na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, a primeira publicação aconteceria apenas postumamente, na revista Souza Cruz, ano VIII, n. 92, em agosto de 1924.